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Tem de mudar já

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As limitaçães de Dilma Rousseff como comunicadora e sua notória dificuldade no trato pessoal e político fizeram com que os profissionais encarregados da construção de sua imagem e de seu discurso ganhassem um peso considerável na campanha de 2010.

Um resultado visível é o artificialismo da retórica presidencial. Dilma ainda parece falar por meio de slogans. Outro, determinante para se entender a crise de credibilidade, é o indiscriminado apelo do marketing nas decisães governamentais.

Dilma levou o espírito de campanha para o Planalto. Quatro anos inaugurando lançamento de obra, montando palanques para anunciar recursos emperrados, festejando novas etapas de programas que sequer foram concluídos e inflando números do governo.

Quem não se lembra da véspera da Copa? Dilma usou cadeia oficial para dizer que 36 milhães deixaram a miséria em 10 anos. No dia seguinte, dados do Ipea, fundação pública vinculada ao Planalto, mostraram que Dilma inflou o resultado em 428%.

Outro mestre da bravata, o ministro Guido Mantega, previu uma expansão de 10% nos investimentos em 2011, mas a retração foi de 6%. Em 2012, apostou num crescimento de 8%, mas a queda foi de 4%. Para 2013, assegurou uma forte retomada, e nada. Em 2014, disse que a economia ia bombar, mas o Brasil parou.

O dado real é que o investimento em Educação cresceu apenas 0,13% do PIB ao ano entre 2002 e 2011. Na Saúde, a fatia do governo federal no financiamento do SUS caiu de 58,5% em 2000 para 44,8% em 2010. O Mapa da Violência revelou que o Brasil bateu o recorde de mortes violentas: 56.337 em um ano.

Enquanto a União concentra 60% de toda a arrecadação de impostos, Dilma faz a política de Pôncio Pilatos com os estados e municípios. Alegando que esses serviços públicos diretamente ligados à cidadania não são de sua conta, fecha os cofres e vira as costas.

Os direitos sociais assegurados pela Constituição de 1988, como a saúde integral e universal, a educação gratuita em todos os níveis, além de dispositivos trabalhistas e previdenciários, aumentaram bastante as obrigaçães e os gastos do Estado.

O desafio do gestor público é planejar e ajustar as responsabilidades do estado previstas em lei e as possibilidades fiscais de cumprimento. Basta ver a anarquia do governo Dilma para fechar as contas públicas para se entender porque o dinheiro não dá.

Plataformas da Petrobras são transferidas para filiais no exterior e contabilizadas como exportação. O BNDES empresta à Eletrobras, que devolve ao governo como lucro e o Tesouro usa a manobra para fabricar saldo fiscal. Pensaram até em tirar os alimentos do cálculo da inflação.

De um lado, os principais projetos estouraram o orçamento, atrasaram e têm suspeitas de desvios de recursos. A refinaria de Abreu e Lima, a ferrovia Norte-sul, a Ferronorte e a transposição do São Francisco, essenciais para o Norte e o Nordeste, se arrastam há anos.

Por outro, mesmo com a carga tributária chegando a 36% do PIB (equivalente a um trilhão e meio de reais), o governo compromete receitas futuras para tapar buracos criados neste mandato.

Como mostrou o economista Mansueto de Almeida, só o rombo no setor elétrico, criado após Dilma decidir reduzir o preço da energia por decreto, seria suficiente para dobrar os investimentos públicos – um dos grandes gargalos do país.

Até dezembro, a sucessão de besteiras cometidas após a MP 579 terá custado aos cofres públicos os mesmos R$ 63 bilhães de investimentos em 2013. Se não bastasse, as previsães para o reajuste da conta de luz no ano que vem chegam a 24%. Uma paulada!

Apesar da sua inescapável responsabilidade, Dilma melancolicamente insiste em resgatar da ditadura a figura do inimigo interno – aquele que trama nas sombras contra o país. Foi essa fantasmagoria que instilou obscenidades como a doutrina de segurança nacional – o “alvará” da perseguição na ditadura.

Ela se esquece do país que o presidente Itamar Franco recebeu após o fiasco de Collor. Era o Brasil das chacinas da Candelária e de Vigário Geral, do massacre do Carandiru, do IDH “muito baixo”, da dívida pública impagável, moratória e hiperinflação, do Estado anacrônico e falido, dos serviços públicos e programas sociais sucateados.

O que houve desde então foi um salto de institucionalização: nova moeda, reforma da administração pública, responsabilidade fiscal, novo sistema bancário e previdenciário, metas fiscais e de inflação, agências reguladoras, normalização do ambiente de negócios etc. Salto este interrompido no governo Dilma – que surfou, não reformou coisa alguma.

Sem inflação, e com o governo focado em atribuiçães indelegáveis, como saúde e educação, o Brasil reencontrou a capacidade de crescer. As pessoas voltaram a fazer planos, a poupar, a investir em si próprias e no futuro. A seriedade na condução dos destinos do país esteve na base de tudo o que conquistamos desde então.

Nos primeiros meses do mandato, cheguei a imaginar que Dilma faria uma síntese criativa e inovadora dos dois governos que a antecederam. Não foi apenas uma grande oportunidade desperdiçada: ela radicalizou o que havia de pior no governo Lula.

No conjunto da obra, o governo Dilma é esta colcha de retalhos de interesses político-partidários, de velho ranços ideológicos, intervençães, teimosias, improvisos, voluntarismo irresponsável e atos da mais pura demagogia publicitária.

“Eu acredito que o povo brasileiro deve me dar oportunidade de um novo período de governo”, disse Dilma a TV Al Jazeera. Para quê? Mais de 70% dos eleitores querem muita mudança no próximo governo. Isto se faz com confiança, compromisso com as pessoas, esperança de uma vida melhor. Não com pibinho/recessão, carestia/inflação, licenciosidade/corrupção. Num último apelo, prometeu corrigir os erros se for reeleita. Nem os eleitores, nem boa parte dos aliados, querem pagar pra ver.

O Brasil precisa de alguém capaz de mudar o rumo e oferecer um horizonte de expectativas novo para os brasileiros. Dilma poderia deixar como legado instituiçães sólidas e uma democracia cheia de vitalidade e em constante transformação. Ao contrário, deixará o país parado, contas enroladas e um governo comido por parasitas.

Tem de mudar já.

José Aníbal é deputado federal e primeiro suplente na chapa de José Serra ao Senado (PSDB-SP).