Que tal termos uma política convergente entre o agronegócio e a sustentabilidade ambiental no Brasil? Começo com o professor/economista Yoshiaki Nakano, ex-secretrário da Fazenda de SP: “Falta um direcionamento claro para onde vai a economia brasileira”. Em entrevista ao jornal Valor (30/06), Nakano diz ver no agronegócio a saída para o Brasil. E acrescenta: o que ainda não foi feito é agregar mais valor ao longo da cadeia produtiva do agronegócio. Isso teria impacto positivo sobre a indústria e os serviços. Significa não exportar apenas a soja em grãos. Exportar o óleo de soja e outros derivados. E assim também com o milho, o café, o açúcar, as carnes, a celulose, etc. Nakano também diz que há alguma melhora em áreas como meio ambiente, um espaço em que o Brasil &ldquo ;pode fazer muita coisa …”. Entendo que esse muita coisa é uma ação conjunta entre o agronegócio e o meio ambiente.
Nossos recursos ambientais constituem uma imensa riqueza nacional, estratégica. Depois de anos de depredação, especialmente nos últimos quatro, em que predominou a licenciosidade e até o estímulo para queimadas, garimpos criminosos, desmatamentos e todo tipo de transgressões, cresce o interesse e as ações em defesa da sustentabilidade em todo o país, inclusive em setores importantes do agronegócio. Este, inclusive, faz uma comunicação institucional em que destaca que agro é vida, é crescimento sustentável. Ao mesmo tempo, boa parte do mundo tem hoje exigências crescentes quanto a origem dos produtos agrícolas e também sobre mudanças climáticas cada vez mais impactantes pelo mundo afora.
Não é difícil imaginar o que podemos construir no Brasil dispondo de dois ativos imensos, tanto no pujante agronegócio, campeão mundial nas exportações de vários produtos essenciais, como na vastidão de nossos recursos naturais, com destaque para a Amazônia e outros biomas. Além disso, temos a matriz energética mais limpa do mundo, gerando energia renovável como nenhum outro país de porte semelhante ao nosso. Com todo esse potencial, podemos ser vanguarda em direção a uma economia de baixo carbono, almejando a neutralidade das emissões. Em linha com o que pensam 70% dos brasileiros que, em pesquisa recente, veem o aquecimento global como ameaça.
Essa convergência certamente criará uma grande janela para investimentos no Brasil em áreas vitais para uma melhoria significativa à qualidade de vida da população, especificamente no saneamento básico como pilar da sustentabilidade, moradia, educação e qualificação profissional. Nessas condições, certamente o setor industrial também terá uma oportunidade de um novo crescimento, tanto quanto o setor de infraestrutura e serviços. “Hoje 50 trilhões de dólares, 25 vezes o PIB do Brasil, é capital que só se torna investimento quando aplicado segundo cláusulas ambientais”, escreveu Jorge Caldeira em artigo no Estadão em 31/05/23.
O mundo enfrenta desafios de toda natureza. Rearranjos geopolíticos, de cadeias produtivas e comerciais estão em curso. O Brasil tem condições especiais para se reposicionar. Um direcionamento claro e disruptivo para o crescimento da economia e da qualidade de vida de nossa gente. E em momentos como esse é preciso ter farol alto.