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SUSTENTABILIDADE: MAIS FAZEÇÃO, MENOS FALAÇÃO por José Aníbal

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No mês de novembro a temperatura média no mundo ficou 2° C maior que no período pré-industrial em meados do século XIX. Sei que muitos desdenham dessa terrível constatação. Uma jovem morreu de sede ( falta de água ), na primeira apresentação da cantora Taylor Swift no Rio de Janeiro, o que é dramático e assustador. Isto as vésperas da COP 28 em Dubai onde o Brasil comparece com milhares de participantes que, junto aos mais de 200 países presentes, terão muitos dias para falar e debater sobre as questões climáticas e a preservação da vida humana. A falação vai ser intensa e tomara que as decisões quanto a fazeção sejam seguidas de ações urgentes. O que não tem acontecido de forma adequada até aqui.

O escritor e membro da Academia Brasileira de Letras Jorge Caldeira, publicou instigante e esclarecedor artigo no Estadão de domingo ( Captura de carbono: Brasil compete ou segue divagando, 03/12 ), sobre crédito carbono para combater as emissões de gás carbônico, que é um dos que mais contribuem para o aquecimento do planeta. Ele relata que foi inaugurada a primeira fábrica de captura de carbono, na Califórnia (EUA), construída com subsídios do governo federal. O custo de captura de uma tonelada/ano do gás fica entre 600 e 1.000 dólares e o processo exige intenso uso de energia elétrica. Acrescenta que 1 hectare de floresta brasileira restaurada – ou preservada – fixa (absorve) 15 toneladas de carbono por ano. Com custo muito menor do que o da fábrica americana. Mas, observa com precisão, a fábrica americana é o início de novo mercado em que o comprador terá certeza de que seu crédito carbono será recebido. No caso do Brasil, com nosso imenso potencial, o governo tem que criar condições para garantir que o que for vendido como crédito carbono, será efetivamente entregue. E menciona que o Cadastro Ambiental Rural pode ser o caminho para a comprovação da execução dos contratos. Dessa forma o mercado brasileiro de gás carbônico terá enorme potencial de captura desse e de outros gases, contribuindo expressivamente para restaurar e preservar nossos biomas, a começar pela Amazônia. Ou seja, depende de uma ação urgente do governo brasileiro criar as condições para que o Brasil seja um imenso mercado para neutralizar as emissões de gases de efeito estufa.

Esta é uma fazeção que está a nosso alcance para enfrentar o terrível crescimento da temperatura média do globo. Uma grande janela de oportunidade para o Brasil crescer e ser vanguarda no combate as mudanças climáticas. Elas são responsáveis por eventos extremos que se tornam cada vez mais presentes e preocupantes, como a seca crescente no norte e nordeste e as chuvas intensas no sul, provocando enchentes, destruição e mortes. Governo tem que agir. Organizar o mercado de crédito carbono, mas não apenas. O desmate na Amazônia caiu pela metade esta ano. Mas no cerrado triplicou em outubro. Tomara que a queda no desmate da Amazônia esteja na direção do desmatamento zero. As consequências ambientais do incremento do desmate no cerrado estão aí, afetando – e atrasando – o regime de chuvas o que certamente terá consequências negativas para a produção agrícola.

Quanto a COP 28, o diretor da ONU Clima disse que os países “devem parar de fingir exageradamente”. Vendo a multidão de pessoas presentes a Convenção de Dubai um amigo observou “parece que quanto mais gente, menos resultados do que o esperado”. Torço para que ele esteja errado. A participação expressiva dos brasileiros e, destacadamente do Ministério do Meio Ambiente, mostrando o que esta sendo feito e programado por aqui, é um alento. Mas atenção, tem gente no governo que olha apenas para o presente e o passado. É uma atitude equivocada, sobretudo considerando as oportunidades que o Brasil tem para receber investimentos associados ao desafio ambiental. Como destaquei num outro texto publicado aqui, temos a matriz elétrica mais limpa do mundo, a maior reserva de água doce do mundo e a maior parte da floresta amazônica. O compromisso de fazer mais, atraindo mais recursos para o fundo da Amazônia e para os projetos que envolvem energias renováveis, hidrogênio verde, saneamento, estão ao nosso alcance. Vamos aproveitá-la ou a tentação do deitado eternamente em berço esplendido vai prevalecer?