Seminário reflete a vitalidade democrática e a necessidade de construir respostas aos desafios contemporâneos, diz José Aníbal
O presidente do Instituto Teotônio Vilela, José Aníbal, avaliou que os debates do seminário Desafios Políticos de um Mundo em Intensa Transformação deixaram clara a vitalidade da democracia, a importância das reflexões e a necessidade constante de busca por respostas. Em sua participação na mesa de encerramento do evento, promovido pelo Instituto Teotônio Vilela e pela Fundação Astrojildo Pereira, ele destacou que a solução para os problemas conjunturais do Brasil, como corrupção e má gestão, não virá por uma via salvacionista, mas por uma saída técnica e pela política.
“A ideia é olhar para frente. Aqui não faltaram diagnósticos e conseguimos alguns avanços no que diz respeito às respostas. Ficou claro que temos uma democracia no Brasil que está funcionando. Há divergências de posições, mas está certo que precisamos de um grande acordo para tirarmos o país desse momento de crise”, afirmou.
Aníbal citou o exemplo de Emannuel Macron na França, atual presidente do país europeu. “Ele não venceu as eleições porque saiu do governo Hollande, mas porque tinha um programa para o país”. “Macron foi ministro da Fazenda do governo Hollande e ajudou a implementar algumas mudanças importantes para e economia francesa, como a reforma trabalhista. Já como presidente, questiona o sistema financeiro, defende a tributação da renda como forma de combater as desigualdades. Está fazendo o que precisa ser feito”, disse.
O presidente do Instituto Teotônio Vilela destacou que é preciso haver maior participação tanto da juventude como dos políticos com mandato eletivo. Aníbal lembrou ainda que todo o conteúdo do seminário está disponível no site do evento e que tanto o ITV quanto a FAP produzirão sínteses e outras publicações relacionadas aos debates.
Políticos precisam dar bons exemplos, afirma Cristovam
O presidente do Conselho Curador da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), senador Cristovam Buarque, encerrou sua participação no seminário afirmando é necessário ter coesão para dar um rumo ao país. “Os políticos precisam dar bons exemplos, com o fim dos privilégios. Precisamos consolidar os partidos, acabar com a impunidade e combater o corporativismo”, disse.
Segundo Cristovam, esgotamos o modelo de parlamento imediatista, cooptação, irresponsabilidade fiscal, improvisação, aparelhamento do Estado, desprezo ao mérito, depredação dos recursos naturais. “Agora precisamos reconhecer esse esgotamento. E o próximo presidente deverá, pelo menos, trazer uma ideia de como conseguir renovar o sistema”, afirmou.
O senador apontou alguns caminhos que podem dar novo rumo a Brasil: reforma trabalhista que reconheça o poder empreendedor, novo sistema de saúde com inclusão do saneamento, sistema bancário que invista na indústria de ponta, educação nacionalizada e publicização do Estado. “Não podemos mais manter essa estatização viciada”, completou.
Que Estado queremos?
A professora livre docente da FFLCH-USP Lourdes Sola encerrou o seminário. Para a socióloga e cientista política, o desafio que está proposto após todas as mesas de discussão é o seguinte: Que Estado nós queremos e para que tipo de democracia?
Segundo ela, alguns momentos são fundamentais para entender esse processo de mudança da sociedade civil e a crise de representação política. O primeiro se deu em 2013, no que Lourdes chamou de “emergência contribuinte”, onde uma classe média brasileira que emergia e pagava por serviços, não encontrava o resultado esperado e resolveu sair às ruas em massa para protestar.
Outro fator mencionado pela professora como problemático é em relação ao sistema de votação do nosso país. “Ele não é inteligível para o povo. As pessoas não entendem o sistema de votação. Sem isso, não teremos uma democracia com bases sólidas”, explicou. Em relação à economia, a lógica funciona da mesma forma, segundo Lourdes. “Os políticos precisam entender como a economia entra na equação política do eleitor, claro que melhorar a economia é fundamental, mas desde que o soberano, o povo, entenda isso no seu dia a dia”.
Para Lourdes Sola, essas questões existem por causa do déficit de comunicação dos políticos e dos partidos. “Falta explicar melhor ao povo, não basta ser racional e achar que as pessoas vão entender tudo sempre”. A professora disse que a eficiência de uma política pública depende do entendimento da população, além do “timing e da oportunidade” para implantá-la.