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Petistas, surfistas e ciclistas

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Fechados os números oficiais para o ano de 2015 e confirmados o desemprego formal na casa do milhão e a inflação de dois dígitos, vale uma breve reflexão sobre quem plantou os frutos amargos que os brasileiros hoje são obrigados a colher.

é fato que a gestão Lula na Presidência teve ganhos na redução da desigualdade social. Um ganho que se obteve na sequência de uma série de medidas de reestruturação da economia, a começar pela estabilização com o Real e a ampliação de programas sociais. Em ambos os casos, açães de Estado lançadas pelos governos do PSDB nos anos 1990. Para ficar em um único exemplo, importante trazer à memória que o Bolsa Família, bandeira que os petistas exibem como sucesso de sua atuação na Presidência da República, resultou da unificação de quatro programas sociais criados na gestão Fernando Henrique Cardoso – bolsa escola, bolsa alimentação, combate ao trabalho infantil e vale-gás -, que o PT rebatizou, vitaminou e avocou para si a paternidade.

Mas um Presidente da República tem que trabalhar para toda a sociedade, tem que ser um homem de Estado, fomentar açães estruturais de logística, política para a indústria e agronegócio, comércio exterior, inovação tecnológica, projetos de fundo que tragam ganhos permanentes. Dedicar-se a uma lição de casa longe do elogio fácil e das luzes da mídia, mas fundamental para o grande objetivo de todo administrador público: a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, que se dá através da evolução dos índices de educação, saneamento, emprego, segurança, saúde, um mundo promissor que se constrói com o legado que todos os governos têm obrigação de deixar para o Estado.

O fato é que Lula surfou a onda do sucesso, com repercussão internacional, mas não fez uma linha sequer da lição de casa. Provavelmente não teve tempo. Jogou por terra a maior janela de oportunidades do Brasil contemporâneo. Hoje, a Operação Lava Jato nos mostra algumas das outras missães a que o então Presidente da República se dedicava. Segundo a delação premiada do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, Lula participou diretamente do esquema de desvio de dinheiro público da estatal em benefício dos cofres do PT e mediante pagamento de propina a apadrinhados do partido.

Infelizmente, só de uns tempos para cá sabemos disso. Em 2010, Lula ainda era um surfista de sucesso, convenceu o eleitor no gogó e conseguiu eleger a sucessora, a também petista Dilma Rousseff. E aí caminhamos para o caos, com as diretrizes desastrosas que ela ditou para a economia. Assim, de pedalada em pedalada, a presidente ciclista nos conduziu à beira do abismo em que o país está hoje, enfrenta um processo de impeachment, segue sem base de apoio no Congresso para governar e sem projeto, salvo o de se manter no poder. A que custo e para quê?

O que Lula e Dilma têm a dizer aos 4 milhães de brasileiros da classe C, que devido à crise em 2015 empobreceram e foram empurrados para as classes D e E?

E a sonhada casa própria, que para 41% daqueles que compraram imóveis financiados voltou a ser um sonho e um pesadelo, pois tiveram que devolver o bem às construtoras por não conseguir continuar pagando as mensalidades?

O Brasil hoje parece um país que foi sem ter sido. O que restou do tudo desse nada, como disse Drummond? Os que governam não têm nada a dizer aos que perderam renda, emprego, esperança. As oposiçães, surpreendidas pelo “apego” desesperado deles ao poder, pelo vale tudo, não podem recuar e nem se intimidar com os arroubos e ranger de dentes dessa gente.

Desde as manifestaçães de 2013, a insatisfação difusa dos brasileiros convergiu para uma exigência de políticas públicas eficientes, de resultados, e de reforma política para combater os desmazelos de nossa gestão pública. Fazer estes anseios da sociedade realidade é o desafio para as oposiçães. Afinal, a crise é também uma oportunidade de crescimento, de afirmação. A grande maioria dos brasileiros verbaliza que com Dilma não dá. Espera, ansiosa e indignada, com forte preocupação, a construção de um caminho virtuoso.

José Aníbal é presidente nacional do Instituto Teotônio Vilela e senador suplente pelo PSDB-SP. Foi deputado federal e presidente nacional do PSDB.