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Para José Aníbal, PSD assedia nicho tucano

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Para José Aníbal, PSD assedia nicho tucano

‘O PSDB tinha que ter muito mais preocupação com a sua própria afirmação’, diz Aníbal em entrevista ao DCI

Anderson Passos, para o DCI

SãO PAULO – “A cooptação dele [Gilberto Kassab], de um modo geral, aqui, na cidade de São Paulo, é muito centrada no PSDB. O PSDB tinha que ter muito mais preocupação com a sua própria afirmação.” A fala é do secretário estadual de Energia, José Aníbal. Derrotado na prévia tucana pelo ex-governador José Serra, em março último, o ex-líder do PSDB na Câmara dos Deputados chamou a atenção para o assédio da legenda do prefeito Gilberto Kassab a quadros tucanos na capital.

Nesta entrevista exclusiva ao DCI, Aníbal não poupa críticas à gestão centralizadora de Gilberto Kassab (PSD) na capital paulista, apontando falhas graves em áreas como saúde, mobilidade urbana, e educação, entre outras.

Leia a íntegra:

DCI: Qual a sua leitura das prévias vencidas pelo ex-governador José Serra? O PSDB, na sua visão, saiu fortalecido desse processo?

José Aníbal: A votação indica, em primeiro lugar, que houve uma grande adesão às prévias. A militância do PSDB se motivou e eu imagino aí que não foram todos que votaram, mas ponha aí um número próximo a cinco mil pessoas. A ideia de participar do processo de escolha do candidato a prefeito da cidade, a ideia de construir pontos importantes para o programa [de governo] que tem a ver com as diferentes comunidades da cidade. Uma cidade imensa que não pode ser administrada, como é hoje, de forma centralizada e com esvaziamento grande daquilo que é a expressão local do poder municipal, que são as subprefeituras. Estão esvaziadas. Então essas pessoas se motivaram para a ideia de ter uma presença maior no poder público municipal, nos distritos. E se motivaram pela recuperação da ideia de que o PSDB é um partido, pela definição original, na frase do Montoro: [Franco Montoro, ex-governador de São Paulo] “Longe das benesses do poder e próximo do pulsar das ruas”.

DCI: A educação parece ser um gargalo importante…

JA: O número de falta de vagas em creche é assustador: mais de 150 mil. Que fossem 100 mil, é um número impressionante, é um número trágico, porque a criança que vai à creche e à pré-escola, quando chega no ensino fundamental, ela sabe ler, escrever e provavelmente sabe o básico das operações. A criança que não tem ambiente escolar anterior ao primeiro ano do ensino fundamental, não sabe ler e escrever, a não ser em um ou outro caso, como ela não tem a vivência da escola, do ambiente pedagógico. E que culpa essa criança tem nisso? Nenhuma. Você está criando uma desigualdade. Isso devia ser algo central, mas como o poder é centralizado no Vale do Anhagabaú, não tá nem aí. Só registra. “Falta, é difícil de fazer”. Como ’é difícil de fazer’? Isso aí se você tiver políticas, se você tiver, eu propus isso, prefeituras distritais, com delegação de poder, para fazer bons diagnósticos, propor boas parcerias para conveniar, para mobilizar as empresas. Esse é um desafio de todos nós. é possível vencer esse desafio no período de um mandato.

DCI: A mobilidade urbana também é uma chaga da cidade…

JA: Os corredores de ônibus não são só complementares a metrô e trens. Os corredores de ônibus são fundamentais. Tem regiões em São Paulo, no sul, norte, leste – oeste menos – mas nas três primeiras corredores de ônibus significariam uma melhora substantiva da mobilidade urbana. O atual prefeito prometeu seis [corredores]. Fez? Nenhum.

DCI: Na saúde os investimentos também foram tímidos, não?

JA: [Kassab] Prometeu três hospitais. Nem começou. é uma leviandade isso. A saúde pública melhorou em São Paulo? Melhorou em boa medida porque o estado tem feito investimentos fortes. A prefeitura fez investimentos também, mas muito aquém do que poderia fazer.

DCI: Essas propostas encontram eco no projeto de Serra à Prefeitura de São Paulo?

JA: Eu não sei como essas informações estão sendo processadas neste momento. Mas, de qualquer maneira, falo por mim. Se eu tivesse sido indicado, eu iria trabalhar com centralidade nesses pontos e em outros.

DCI: O senhor fez várias menções à participação do governo do estado em programas na capital. Do outro lado, a oposição afirma que o governo federal tem recursos para a cidade. Por que não há essa integração com Brasília?

JA: Cabe ao prefeito atual lhe dizer por que não fez, se é que isso, de fato, aconteceu. Eu acho que é possível fazer muitas parcerias com o governo federal. Na área de habitação já têm coisas sendo feitas, mas acho que se podem fazer mais. A prefeitura tem deixado que as coisas corram muito soltas em São Paulo. As laterais da Avenida Nações Unidas, na Marginal do Pinheiros, aquela ocupação que se está fazendo, aquelas construções que não param, elas deveriam estar mais bem normatizadas, mais associadas a equipamentos públicos, a creches, atendimento básico de saúde. E as coisas estão acontecendo, correndo soltas. Eu acho que o poder público é muito ausente também nessa área de organizar, de induzir o crescimento da cidade tendo em conta não só a questão imobiliária, mas também a implantação de serviços que atendam à população. é questão de apresentar projetos, de ter bons projetos. A prefeitura está muito centralizada, não tem projetos. A parceria com o governo do estado em relação ao metrô está paralisada desde o ano passado.

DCI: Qual era a contrapartida da prefeitura no metrô?

JA: Era de R$ 1 bilhão. Desde 2010 ela não coloca nada. E olha que o orçamento de São Paulo não é pequeno, não. Veja a questão da dívida de São Paulo: [O Kassab] se movendo agora, no final do mandato. Deveria ter se movimentado nisso no primeiro dia do mandato.

DCI: O próximo prefeito deve assumir com uma dívida de mais de R$ 50 bilhões…

JA: De qualquer maneira, São Paulo enfrenta ainda o remanejamento de recursos que se faz de forma irresponsável. Eu mostrei, em fevereiro, que foram acrescentados R$ 200 milhões à varrição. E já tinha R$ 450 milhões do orçamento deste ano aprovado em 2011. Trinta dias depois, se acrescentaram mais R$ 200 milhões, 45% a mais. De onde veio esse dinheiro? De três subprefeituras: tirou R$ 5 milhões de uma, R$ 4 milhões de outra, tirou do prolongamento da Radial Leste, tirou de córregos, tirou da pavimentação. Eu coloquei a pergunta no meu Twitter: “Cadê o dinheiro, prefeito? Cadê o dinheiro da Prefeitura de São Paulo?” Porque a receita é espetacular. Você veja com as multas de trânsito: é uma indústria, é uma coisa escandalosa. Foram arrecadados no primeiro trimestre de 2012 pouco mais de R$ 200 milhões; este valor é praticamente o que se arrecadou no penúltimo ano da Marta Suplicy. Nesse ritmo que está aí nós vamos chegar a R$ 1 bilhão no final do ano com multas de trânsito. Elas servem para melhorar o sistema viário de São Paulo? Não. Elas vão para o caixa da prefeitura. A multa de trânsito hoje é uma nova taxa em São Paulo.

DCI: O senhor fez críticas à gestão de Kassab, mas o PSD, e, mais recentemente, o PR, anunciaram apoio à candidatura de José Serra…

JA: Tem um lado positivo nessa coisa de coligações que é o tempo de televisão. Mas a televisão sozinha não ganha a eleição. Tem uma série de outros fatores que contam. Já teve gente com tempo maior de televisão e o resultado foi escasso. No caso da relação com o prefeito, o nosso candidato tem uma relação muito próxima. Eu não sei como é que vai se administrar isso porque a avaliação do prefeito é muito precária. Em relação ao PR, é uma aliança de tempo. Agora, claro, sem dúvida nenhuma, tem gente que questiona…

DCI: Onde fica a coerência nesse caso? Porque o PSDB pressiona para a realização do julgamento do Mensalão e admite um dos réus, o deputado Valdemar Costa Neto, no mesmo palanque…

JA: Olha, a política hoje no Brasil está muito pragmática. é um pragmatismo que às vezes rebaixa a política. é um pragmatismo onde a política, num sentido de formulação, políticas públicas, programas de atendimento à população, fica um pouco rebaixada. Infelizmente estamos vivendo esse momento. Precisa ver como é que se supera isso.

DCI: O senhor já conversou com o Serra para definir o seu apoio à candidatura dele?

JA: No momento adequado conversaremos. Me sinto gratificado com a votação que tive, embora tenha trabalhado para ganhar a eleição. Não trabalhei para marcar posição; trabalhei para ganhar. Obtive um grande resultado. No momento não quero falar nada mais sobre o resultado. Mas, acho que houve conservadorismo na ideia que motivou uma grande aliança para apoiar o que estava melhor nas pesquisas, que era principalmente recall. O Serra, em 12 ,14 anos, foi seis vezes candidato majoritário. é evidente que a lembrança do nome é mais forte, mas prevaleceu essa atitude mais conservadora. E eu não sei se é o melhor, por que eu tenho a sensibilidade de que o eleitor gostaria de renovação.

DCI: O fato de o Serra ter deixado a prefeitura em 2006 para concorrer ao governo do estado pesa muito contra ele?

JA: Lá atrás, eu acho que o eleitor de São Paulo admitiu essa saída dele sem que isso criasse um impedimento para avaliação e votação dele para governador. Ao contrário, ele ganhou no primeiro turno.

DCI: O senhor pretende apresentar condicionantes para apoiar a candidatura de José Serra?

JA: Eu sou um homem de partido. Estou acompanhando aí como as coisas estão acontecendo. Evidentemente, eu vou estar presente nesse processo eleitoral, tenho amigos que são candidatos a vereador, quero colaborar com eles, ser presente, fazer campanha, andar nos bairros, pedir votos. E, evidentemente, claro que o candidato do partido é o meu candidato. Agora, não só eu, mas parcela importante que me apoiou [nas prévias] quer ver refletidas nas propostas do candidato essas ideias relativas à descentralização do poder.

DCI: Como é que o senhor está vendo a pré-campanha dos adversários? é possível imaginar uma vitória tucana já no primeiro turno?

JA: O PSDB vai ter. As candidaturas ainda estão um pouco embrionárias. E algumas até meio sem rumo. Mas enfim, vai acontecer na medida em que o processo acontecer. As convenções, o processo eleitoral, é claro que vai ter um acirramento natural. V amos ver quem é capaz de polarizar com o PSDB.

DCI: Nas eleições municipais de 2008 nós assistimos à migração de apoio do hoje governador Alckmin à candidatura de Gilberto Kassab (então no DEM). Serra corre o risco de ver reeditado esse racha?

JA: O que eu ouço aqui e lá é que o partido está unido na candidatura. Quem provocou aquele episódio de 2008 é quem hoje está no PSD. Tem alguns sobreviventes ainda no PSDB, mas boa parte deles está no PSD. Eu tenho um conhecido que foi à adesão do PSD ao Serra, me disse que 80%, 90% dos que estavam lá eram oriundos do PSDB. Quer dizer, o Kassab está arregimentando e cooptando no PSDB. A cooptação dele, de um modo geral, aqui, na cidade de São Paulo, é muito centrada no PSDB. O PSDB tinha que ter muito mais preocupação com a sua própria afirmação. Uma questão relevante nesse momento é a coligação na chapa proporcional. Eu acho que o PSDB tem que almejar eleger, como elegeu com Geraldo em 2008, sem coligação, 12 vereadores, pelo menos. O PSDB tem que eleger um número expressivo de vereadores correspondente à sua força política na capital. Temos hoje oito vereadores e o desafio de fazer crescer essa bancada. Tem que fazer alguma coligação? Talvez. Agora, com o PSD eu acho muito questionável. Eles vão ter muitas condições e querem coligar para usar o PSDB em suas eleições. Nós, que temos oito vereadores hoje, podemos diminuir.

DCI: O Serra, ao contrário da Câmara de Vereadores, considera uma boa alternativa conceder um terreno para a construção de um Memorial da Democracia, com o acervo do ex-presidente Lula. A bancada, igualmente, defende que os vereadores que deixaram o partido, sejam processados, enquanto o ex-governador defende a anistia.

JA: Eu sou contra, acho aquilo um absurdo. Quem lutou pela democracia foi o povo brasileiro. A campanha das Diretas Já teve lideranças importantes: Tancredo Neves, Franco Montoro e muitos outros. A democracia é uma obra coletiva do povo brasileiro. Conceder um terreno para o “memorial do Lula” associado ao Memorial da Democracia, cabendo ao PT a gestão do que vai ser mostrado é uma temeridade. E fazer isso com recursos públicos é pior ainda. Com relação a retirar processo dos vereadores, o que me constrange é que isto está inscrito num movimento do qual eu discordo, de se estabelecer uma relação preferencial com o PSD em São Paulo. O presidente estadual do PSDB, Pedro Tobias, me disse que fora da capital o PSD coliga basicamente com os nossos adversários, e aqui, na capital, nós coligamos com eles. E eles [PSD], com suas conveniências, vão fazendo seus avanços. Contamina o PSDB e fragiliza o partido que tem que zelar pelo seu fortalecimento.

DCI: Para encerrar, uma provocação: José Aníbal está para o PSDB assim como Marta Suplicy está para o PT?

JA: Não. Porque nós fizemos as prévias, e eles não fizeram. Alguém pode questionar a legitimidade das prévias? Até pode, mas eu acho, de qualquer maneira, que foi um grande momento do PSDB de São Paulo. Eu lamento que o partido não esteja sabendo trabalhar este grande momento.