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José Aníbal: ‘O governo não deveria recuar nas medidas duras’

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éPOCA – As medidas de ajuste das contas públicas já encaminhadas ao Congresso – o teto de gastos públicos e a renegociação das dívidas dos estados – estão com o melhor texto possível?
José Aníbal
– Enfrentamos a crise mais profunda da história do país. Para revertê-la, o governo apresentou bons projetos, necessários à retomada da atividade. As duas iniciativas devem ser apreciadas com rigor no Congresso. O governo não pode recuar em medidas duras. Não se pode ser flexível em propostas que ampliem gastos. O Brasil precisa resgatar a credibilidade para que o investimento e o emprego reajam.

éPOCA – No projeto de renegociação das dívidas dos estados, o que representa a retirada da proibição de aumentos salariais reais (acima da inflação) a servidores por dois anos?
Aníbal –
O governo não deveria ter recuado, mas conversado com os deputados. Não se pode ceder a pressões quando o interesse do Brasil está em jogo. A flexibilização abre excepcionalidades para reajustes de outras categorias. Além disso, pode implicar redução de investimento em saúde, educação, segurança. Diante da crise, as escolhas não são fáceis.

éPOCA – Isso abre um precedente para que outros projetos percam força no Congresso?

Aníbal – Se o Congresso afrouxar as regras, eles perdem o sentido maior, que é a estabilidade fiscal. No caso da Previdência, se nada for feito, até 2030 ela seria inadministrável. Não se trata de punir ninguém. Quem está aposentado continua aposentado. E quem vai se aposentar terá um regramento de transição para uma nova situação.

éPOCA – Como avalia o efeito do reajuste do Judiciário na comunicação da necessidade de ajuste aos parlamentares e à sociedade?
Aníbal –
Foi um passivo herdado do governo anterior, mas, com certeza, foi um erro. Os integrantes do Judiciário não vão às ruas? Não veem os efeitos concretos da crise, como a deterioração do mercado de trabalho? é uma questão de cidadania compreender a gravidade da situação. Essa decisão pressiona o endividamento público, pois a arrecadação está caindo. Quem pagará essa conta, no limite, são os brasileiros.

éPOCA – O governo Michel Temer ganhará poder de barganha se deixar de ser interino?
Aníbal –
O governo passa a ter mais autoridade. Embora haja uma percepção de que isso vai acontecer, há uma diferença entre o momento atual e o depois dele. Com um presidente definitivo, o ajuste é favorecido.

éPOCA – Qual é o peso das eleições de 2018 na negociação do ajuste fiscal?
Aníbal –
As eleições têm um peso enorme. Mas é uma insanidade pautarmos decisões de hoje olhando para 2018. Temer já disse que não será candidato e está concentrado no compromisso com o reequilíbrio das contas públicas. Se o ajuste não passar, não sei o que será do Brasil daqui a dois anos. Será um cenário imprevisível. Há analistas que dizem que o país voltará a ser como no fim do governo Sarney. Deus me livre!