O Instituto Teotônio Vilela (ITV) e o PSDB-ES realizaram, nesta sexta-feira (13/11), em Vitória (ES), o encontro regional “Caminhos para o Sudeste”, com o tema “Competitividade Brasileira em Mercados Globais”. O evento integra as comemorações dos 20 anos do ITV.
Em sua palestra, o presidente do ITV, José Aníbal, afirmou que, apesar do atual cenário, é possível ser otimista com relação ao Brasil, porque o país soube aproveitar boas oportunidades de crescimento desde a redemocratização. Entretanto, essa retomada não incluiria a presidente Dilma Rousseff. “Ela não governa. Precisamos encarar os problemas e agir, mas Dilma não tem condições para isso”, disse.
José Aníbal, presidente do ITV
José Aníbal citou alguns momentos em que foi possível o Brasil aproveitar as oportunidades. “Tivemos uma Constituição generosa e, depois do impeachment, tivemos novamente sorte: um presidente que compreendeu a necessidade de reformas, de recuperação econômica, de emancipação da inflação. Aí, surgiu o Plano Real”, disse. Nos governos do PSDB, destacou Aníbal, houve universalização da educação e da saúde, além de avanços sociais com programas como o Bolsa Escola, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e o Vale gás.
“Também fizemos as reformas estruturantes, sempre, pelo caminho do Parlamento. Aprovamos a Lei do Petróleo, que fez a Petrobras crescer, sempre debatendo com o Congresso. Mas esse governo faz o contrário. E a regressão vem sendo exponencial”, afirmou José Aníbal, citando o exemplo da MP do Setor Elétrico. “Foram apresentadas 400 emendas, mas nenhuma foi aceita. E o resultado está aí: todos os meses os brasileiros recebem a visita de Dilma por meio do aumento na conta de luz”, disse.
Com Dilma não dá
“Agora também estamos com juros a 14,5% ao ano. Mas essa taxa incide mensalmente para aquelas pessoas que usam moedas alternativas, como cartão de crédito e cheque especial. E hoje temos que 50 milhões de famílias estão adiando pagamentos”, relatou o presidente do ITV. “Além disso, há forte perspectiva de aumento do desemprego também no próximo ano”, completou.
“Mas o fato de o governo do PT ter desperdiçado a bonança da primeira década pós-real e as reformas não impede que sejamos otimistas. O Brasil está acostumado a renascer das cinzas. O mundo quer a volta do crescimento no país. Só que, com Dilma, não vejo como”, concluiu.
Crise econômica decorre da falta de confiança no governo
Um dos palestrantes do encontro, o economista e técnico do IPEA, Mansueto Almeida, falou que a crise econômica brasileira decorre da total falta de confiança de empresários, investidores e sociedade no atual governo. “O governo não consegue nos mostrar o que vai fazer. O ministro fala uma coisa e a presidente outra. Todo dia surgem dúvidas se o ministro da Fazenda vai continuar ou não. Os senadores do próprio partido do governo o criticam. Como esperar apoio de outros partidos para aprovar as medidas de ajuste propostas pelo governo? As pessoas não confiam na presidente.”
Mansueto Almeida
Mansueto afirmou também que o Brasil vai passar pela pior recessão desde a década de 80. “A culpa da recessão brasileira não é do resto do mundo. Desde 1900, o Brasil só teve queda de PIB em dois anos consecutivos em 1930 e 1931. Nosso PIB esse ano deve encolher 3% e possivelmente vai cair o mesmo percentual no ano que vem também, enquanto o resto do mundo tem crescido entre 3 e 3,5%. Teremos uma década perdida em termos de crescimento do PIB e produção da economia.”
A “política econômica diferente e voluntarista” adotada pelos governos do PT a partir de 2005 foi a grande responsável pelo desarranjo das contas públicas, segundo o mestre em economia. “O PT começou a aumentar brutalmente os gastos de uma forma não sustentável. Começou a oferecer financiamentos sem critérios, deu muitos subsídios e desonerações. De 2007 a 2014, o governo aumentou sua dívida em 500 bilhões de Reais para mandar recursos ao BNDES e subsidiar empresas que não precisavam”.
“Agora, o governo está reduzindo investimentos, já cortou 24 bilhões de Reais, e quer aumentar impostos – como a CIDE e a recriação da CPMF. Nossa carga tributária já é maluca e desigual. Não avançamos nada em reforma tributária. O governo está perdido. Acreditava que pra ter desenvolvimento e crescimento era só bater na mesa e ser voluntarista”, complementou.
A delicada situação das estatais brasileiras também foi tema da palestra. “Não se controla inflação segurando preço de gasolina e conta de luz, isso quebra as estatais. A Petrobras é, hoje, a empresa mais endividada do mundo. Para equiparar a dívida dela com a de outras petroleiras do mundo, teria que dobrar o preço da gasolina. Em 2012, o governo mudou também todas as regras do setor elétrico e quebrou a Eletrobras. São erros econômicos triviais”, ponderou Mansueto.
Mesmo diante do cenário atual, Mansueto mostrou otimismo quanto ao futuro de longo prazo do Brasil e apontou o caminho que deve ser seguido daqui pra frente. “Quando comparamos o Brasil com os outros grandes emergentes, nos destacamos. Temos uma democracia plena, com liberdade de expressão, partidos políticos fortes. Sou otimista quanto ao futuro do Brasil. O que precisamos é de um governo com um compromisso muito claro em cima de um plano de ação e esse governo não tem propostas claras. Temos que dar segurança aos investidores, é muito ruim ficar mudando as regras toda hora, e recuperar a confiança”.
“Só vamos sair da crise se o país voltar a crescer. A recessão deve se agravar e o governo vai precisar reunir um grande apoio político para aprovar as medidas que pretende, nenhum economista vai resolver isso”, concluiu Mansueto.
Falta de confiança e de investimentos
O presidente do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo, Luiz Paulo Vellozo Lucas, baseou sua reflexão em três pontos básicos: enfraquecimento do Real, esgotamento dos investimentos públicos e privados e crise energética. “A primeira reflexão a se fazer é a falta de confiança no governo federal. E pelo cronograma brasileiro, essa crise deve durar até as eleições de 2018. As regras podem ser boas ou ruins, mas a falta de confiança em quem está cuidando do interesse coletivo é preocupante”, apontou Luiz Paulo.
“Ainda esbarramos na questão da competitividade, por causa da desvalorização do Real. Tudo o que foi feito 20 anos atrás foi perdido nos últimos anos. O segundo elemento é o esgotamento dos investimentos públicos e privados. Por fim, há a questão da energia. O preço da energia é muito alto”, destacou Luiz Paulo.
Encarar a crise
Vice-governador do ES, César Colnago
O vice-governador do Espírito Santo, César Colnago, destacou a necessidade de encarar a crise atual e até aquelas que poderão atravessar os caminhos dos brasileiros. “O Espírito Santo é exportador e, embora tenha sofrido com o fim do Fundap, perdas no ICMS e nos royalties, logo que assumimos o Governo, criamos o Comitê de Gastos e começamos os ajustes” disse. Outro ponto considerado fundamental por César Colnago é o investimento na educação. Ele citou a experiência da Escola Viva, implantada pelo governo capixaba.
Colnago também destacou o problema da crise hídrica e o que o governo estadual tem feito para contorná-lo. “Estamos investindo na recuperação dos rios Santa Maria da Vitória e Jucu. Também estamos acompanhando a questão do impacto ambiental e recuperação dos leitos”, disse.
Favorecimento da impunidade
O deputado federal Max Filho fez um resumo da semana legislativa e lamentou a aprovação de regras que favorecem a impunidade. “A semana começou com a aprovação da bonificação da outorga sobre a energia. Esse é o nome chique para dizer que o Governo avançou sobre o bolso do brasileiro permitindo o aumento da tarifa de energia”, afirmou o parlamentar, criticando ainda a aprovação da MP que permite a repatriação de valores. “Isso nada mais é que permitir a entrada no país de dinheiro ilícito. Vão pagar um imposto e deixar livre quem promoveu evasão de divisas, sonegação”, assinalou.
Antônio Marcus Machado, presidente do ITV-ES
O Encontro Regional “Caminhos para o Sudeste – Competitividade Brasileira em Mercados Globais” foi comandado pelo presidente estadual do ITV no Espírito Santo, Antônio Marcus Machado, que destacou a importância do evento promovido pelo Instituto. “Vamos fazer outros encontros como este, no interior do estado, ouvindo as pessoas para que suas contribuições façam parte das propostas que o PSDB apresenta”, disse.