A reação da presidente Dilma Rousseff ao conteúdo da delação premiada de Ricardo Pessoa, homologada pelo ministro Teori Zavascki, mostra que o governo, se já não tinha rumo, perdeu também o chão. O que se viu nos EUA foi uma Dilma disparatada. Traída pelas próprias palavras, mostrou-se mais fragilizada do que se supunha.
Ao fustigar o empreiteiro e compará-lo a Joaquim Silvério dos Reis, delator da Inconfidência Mineira, Dilma Rousseff, de certa forma, admitiu a comparsaria. Afinal, só está apto a trair quem goza de confiança e intimidade. Ficou subentendido que ambos, até o silêncio rompido pela delação, estavam no mesmo barco.
Agora a presidente tenta desqualificar a Lava Jato como se as delaçães não fossem amparadas em documentação probatória. Como lembrou o ex-ministro Joaquim Barbosa, delação premiada “é um instituto penal-processual previsto em lei no Brasil” e uma presidente não deve “investir politicamente contra as leis vigentes”.
Aliás, aos poucos, Sérgio Moro e Joaquim Barbosa vão se tornando a mesma pessoa. Pela indiferença aos rugidos do poder, ambos, para o PT, viraram a encarnação do arbítrio e do desmando. Sentindo o cheiro de Papuda no ar, resta ao governo partidarizar tudo. A fórmula é velha: turva-se a água para nada mais parecer cristalino. Se todos são sujos, não há o que punir.
Mas o poder de enganar tem limite. O povo não é bobo. Manipular dados econômicos, administrar por meio de déficits e fraudar eleiçães nada têm a ver com ideologia ou luta de classes. São atentados contra o jogo democrático – aliás, não à toa tipificados como crimes. Os governos perdem a autoridade se não são legítimos. E esse aí não é mais.
Vendo o escândalo se aconchegar ao seu gabinete, Dilma alertou que não admitirá que se insinue contra o governo ou sua campanha. E que “seus” ministros tomarão providências caso isso ocorra. Quer dizer que é papel do governo defender malfeitos do partido na campanha? Essa é a reação de Estado que a companheira tem a oferecer?
Ao contrário da ditadura, quando o Estado de Direito estava em suspenso, as instituiçães têm dado provas de grande vigor. Funcionam como órgãos de Estado, não de governo. O Procurador-geral referiu-se ao esquema de corrupção como descomunal. O STF homologou a delação. A PF faz suas diligências. Onde está a arbitrariedade?
Revelador e incomum é que uma presidente em exercício, com o governo atolado numa crise institucional, terceirize sua autoridade política, até porque não pode mais sustentá-la. As decisães importantes do país não podem entrar em recesso porque Dilma Rousseff não sabe o que fazer. Pior: deixar Lula tomando conta da crise em seu lugar constrange mesmo os 10% que ainda lhe permanecem fiéis.
José Aníbal é senador suplente pelo PSDB-SP. Foi deputado federal e presidente nacional do PSDB.