Artigo publicado no Blog do Noblat, na versão on-line do jornal O Globo, em 15/07/2015
Três notícias aparentemente sem conexão entre si dão uma boa ideia da degradação institucional a que o PT tem submetido o país. Primeiro, a reunião secreta entre Dilma e o presidente do STF durante uma escala da comitiva presidencial em Portugal.
Não seria tão imprudente não fosse, no dia seguinte, o advogado-geral da República apostar todas as suas fichas num recurso ao Supremo no processo das pedaladas fiscais. é a velha estória da mulher de César: não basta ser honesto, tem de mostrar que é. E mostrar o tempo todo.
A segunda diz respeito à gráfica suspeita de lavar dinheiro da Petrobras em campanhas do PT. No depoimento, o diretor disse que a dinheirama não era fruto de propina nem de publicidade, mas de “jornalismo pago” publicado nas revistas editadas — imagino o que sentem os jornalistas sérios!
Os veículos em questão, surgidos e financiados nos governos do PT e usados nas guerras sujas eleitorais, são os mesmos tidos como exemplos de “democratização da mídia”. Empresas de “jornalismo pago” suspeitas de lavar dinheiro sujo em campanhas eleitorais não ajudam a democratizar coisa alguma.
A terceira notícia, a mais absurda, é a MP que institucionaliza a lavagem de dinheiro. Em busca do ajuste fiscal que o governo não consegue fazer, Dilma decidiu anistiar o dinheiro sujo escondido no exterior em troca de um imposto. Vai regularizar os frutos da evasão, do tráfico e da corrupção. Um prêmio a quem enganou o Estado.
Enquanto estertora, o governo Dilma ajuda a deseducar nossa ainda frágil cultura cívica. A República demanda uma pregação democrática constante. O exemplo vem de cima. O líder governa e educa. Tem de ser o primeiro a se submeter às normas. Se não vale para ele, todos sentem-se dispensados.
Dilma não entende que a impaciência do país se deve, em grande parte, ao desacordo flagrante entre o discurso público e as práticas nos gabinetes. O Brasil sabe que eles não fazem o que dizem. Que nada do que esse governo fala se escreve. é grave. A mentira deseduca.
Daí, poucos se importam se o IPEA tenha omitido dados negativos durante a eleição para não prejudicar a campanha de Dilma Rousseff. Daí, que ninguém se espanta se os corruptos da Petrobras gastavam dinheiro do contribuinte com prostitutas de luxo para celebrar a corrupção.
Pela quantidade de analistas e pseudointelectuais forçando a vista grossa para defender uma suposta vontade “legítima” auferida pelas urnas, fica claro que a condescendência com o malfeito e com o crime chegou a níveis alarmantes — como se houvesse crime justificável.
A deseducação cívica embutida nas práticas políticas dos governos do PT vai nos custar caro, sobretudo às geraçães mais jovens. A despolitização e a descrença com a democracia são obras que duram anos demais. O PT força os alicerces enquanto expia suas culpas. Pior para as instituiçães. Pior para a democracia.
José Aníbal é presidente nacional do Instituto Teotônio Vilela e senador suplente pelo PSDB-SP. Foi deputado federal e presidente nacional do PSDB.