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A elite branca e outros fantasmas

Artigo publicado no Blog do Noblat, na versão on-line do jornal O Globo, em 18/06/2014

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No pronunciamento em cadeia nacional de rádio e tv, realizado na antevéspera da Copa, a presidente Dilma Rousseff cometeu uma enorme imprecisão ao divulgar o número de pessoas que, supostamente, teriam deixado a miséria nos governos do PT.

Em 10 anos, segundo o pronunciamento da presidente, nada menos que 36 milhões de brasileiros e brasileiras teriam vencido a extrema pobreza.

Fora o fato de que propaganda partidária não deveria estar num pronunciamento da Presidência da República, dados do Ipea, fundação pública diretamente vinculada ao Palácio do Planalto, desautorizaram Dilma.

O dado real, aferido pelo instituto a partir da pesquisa por amostra de domicílios do IBGE, é mais de quatro vezes menor. Para ser preciso, entre a verdade e o discurso de Dilma há uma variação de 428%. é difícil saber se é erro ou desonestidade.

O silêncio que se seguiu revelou certo embaraço do governo com a divulgação. Essas imprecisões, digamos assim, são regra no Planalto, e não exceção. Com o padrão PT, o dado oficial virou papo furado.

Basta olhar como o governo fecha as contas. Plataformas da Petrobras são transferidas para filiais no exterior e contabilizadas como exportadas. O BNDES financia o Tesouro e este fabrica o saldo fiscal. Até retirar o preço dos alimentos do cálculo da inflação foi cogitado.

A título de exercício, imagine se o governo cometesse o mesmo erro de 428% no cálculo de seus cargos comissionados? Se ao invés das 23 mil atuais, eles relevassem invejáveis 99 mil indicações políticas? Em cadeia nacional de rádio e tv, Dilma jamais cometerá este tipo de engano.

Cansada do eterno estágio experimental da presidente, a boa vontade da população acabou. Ao ver a pupila acuada, Lula teve de recorrer mais uma vez ao fantasma da medonha “elite branca” de São Paulo.

Não é sem motivo que Lula se esforça para que São Paulo seja visto como antipático pelo restante do país. é o que lhe cabe fazer. Com Haddad permanentemente em depressão e Alexandre Padilha empacado em 3%, nenhum outro eleitorado rejeita Dilma de forma tão irredutível.

E não adianta inflar as realizações do governo. A sociedade fermenta inquietações para as quais o PT continua sem resposta. Depois de 10 anos, não sabe nem por onde começar.

José Aníbal é deputado federal (PSDB-SP).