Assis, interior de São Paulo, primeiro de julho de 1994. Campanha eleitoral acompanhando o senador Mário Covas, candidato a governador. Logo que o banco do Brasil abriu fomos trocar nossos cruzeiros reais por notas de Real. Em seguida fomos numa padaria tomar café e comer pão na chapa. Ao pagar com reais, tanto Covas quanto eu ficamos impressionados com a rapidez com que a caixa calculou o valor da conta em reais, fazendo rapidamente a conversão da velha para a nova moeda. Um sinal de que os brasileiros ansiavam por uma moeda em que pudessem confiar – expressão de um ardente desejo de terminar com a inflação. As maquininhas que remarcavam os preços todo dia, foram abandonadas. No mês anterior, junho, a inflação foi de 47%! Em julho, com o Real, foi negativa.
O ganho instantâneo foi sentido e comemorado por todos, especialmente pelos brasileiros que vivem do seu salário. Terminava a crescente desigualdade que a inflação descontrolada – até 2% ao dia – impunha e aumentava a cada mês. O condutor do Plano Real – Fernando Henrique Cardoso, Ministro da Fazenda – com o apoio do então presidente Itamar Franco, foi eleito e reeleito presidente do Brasil. 25 anos de inflação controlada merece comemoração. Não só pelas inúmeras consequências positivas para toda sociedade, para a economia e para a credibilidade do país, mas pela racionalidade do programa, pelo pé no chão com que foi elaborado, tornando-se a mais duradoura mudança da política econômica/monetária de nossa história.
Uma manifestação feita pelo economista Edmar Bacha, um dos principais autores do Plano Real, numa reunião que participei, anos depois, no Rio de Janeiro, merece registro. Disse Bacha que após a conclusão do Plano, viram que seria essencial, antes de sua publicação, que uma grande liderança política nacional fosse informada do que se tratava e aceitasse assumir sua defesa. Procuraram o senador Mário Covas e expuseram detalhadamente o Plano. O engenheiro quis saber de todos os detalhes, os riscos, as consequências e, sobretudo, a viabilidade duradoura de um Plano para acabar com a inflação. Convencido da qualidade e urgência da iniciativa, Covas se comprometeu a apoiar o Plano Real a aprovação no Congresso Nacional e ir com eles até as últimas consequências. Bacha acrescentou: era o que nos faltava para anunciar o Plano Real.