Os parlamentares voltam ao Congresso Nacional depois de 45 dias de recesso. Foi um momento importante para o convívio com as agruras do povo brasileiro. Afinal, tanto os parlamentares da oposição como os da base de apoio do governo andaram pelo mesmo país. Não viram um país que progride e outro que não. Viram que a crise não poupa ninguém, nem região alguma do nosso imenso Brasil. Certamente, viram que o mais generoso propósito de convergência para sair da crise esbarra na reiteração de políticas destinadas a agravar a crise e suas dolorosas consequências. Dilma ouve, mas não escuta. Insiste em fazer mais do mesmo. As previsães são sombrias. Vamos ter um crescimento negativo de 3,5% neste ano, e já há previsão de outro retrocesso em 2017.
Depois das andanças pelo Brasil, da vivência dura e crua com a realidade, certamente os parlamentares, em especial os que compãem a base de apoio do governo, estão aguçando a reflexão sobre o que fazer. Admitindo que, por diferentes razães, mantiveram ao longo do ano passado confiança na capacidade de reação do governo Dilma, esta confiança hoje deve estar abalada. Entre a confiança em Dilma de um lado e seu amplo descrédito junto à população de outro, após um ano em que tudo piorou, os parlamentares da base governista com certeza não terão dificuldade em reconhecer: quanto mais próximos estiverem da presidente, menor será a credibilidade deles nas eleiçães municipais que se avizinham. Os efeitos deste alinhamento serão ainda piores nas eleiçães que a maioria dos atuais parlamentares disputará: 2018!
Sabemos que a motivação eleitoral não é tudo. Tanto quanto a participação no governo não é razão única para apoiá-lo. Entretanto, hoje em nosso país nada justifica continuar na base governista, do PT e adjacentes irmanados, embora mesmo entre eles muitos já tenham – até por sensatez – pulado do barco. Quando há convicção no que se faz, vale o sacrifício. Mas não pode haver convicção no desemprego, na devastação das contas públicas, no retrocesso em todas as políticas sociais, na falta de credibilidade e confiança. Na falta de governo.
Existem fundadas e reais motivaçães para acreditar que este reinício da atividade parlamentar não seja apenas a continuidade do que tínhamos em dezembro do ano passado. Já quanto ao governo, nada de novo. Os números de 2015 confirmam o desastre; o Conselhão não passou da reiteração do genérico da Nova/Velha Matriz Econômica; a ida da presidente ao Congresso foi inócua, longe da sinergia que precisava gerar para ganhar algum vigor político. Matreiramente, procurou jogar a responsabilidade sobre o Congresso Nacional, e recebeu merecida vaia quando mencionou a volta da CPMF. Que este seja o sinal de que o Parlamento já não se dispãe a lhe dar recursos que associem o Congresso ao prolongamento do desastre encarnado por Dilma.
PS: Final de semana antes do início oficial do carnaval, milhães de brasileiros saíram as ruas nos blocos. Muito mais que no Carnaval do ano passado. Nas ruas, brasileiros de saco cheio do dia a dia foram confraternizar, curtir, comemorar e, sobretudo, esquecer do país que parece parado no ar. Vamos continuar a movimentar as ruas depois do Carnaval!
José Aníbal é presidente nacional do Instituto Teotônio Vilela e senador suplente pelo PSDB-SP. Foi deputado federal e presidente nacional do PSDB.