Business is booming.

QUALIFICAR, SALVAR UMA GERAÇÃO

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O artigo “Não haverá reindustrialização”, publicado no jornal Valor em 16 de fevereiro pelos economistas Pedro Cavalcanti Ferreira e Renato Fragelli Cardoso, ambos da Escola Brasileira de Economia e Finanças (EPGE-FGV). É um bom texto que estimula importante debate para o país. De início eles afirmam que “O retorno do PT ao poder ressuscitou o sonho da reindustrialização. Uma análise serena do tema evitaria a repetição de erros cometidos no passado”. Vou me ater a um desafio que eles resumem: “Mesmo que ‘desta vez seja diferente’, não vemos como mudar muito o quadro atual. O Brasil não tem ainda tecnologia nem mão de obra qualificada para competir globalmente em dimensões relevantes, já que parte grande de sua indústria sempre viveu de proteção e não de inovação.”
Vou me concentrar na qualificação profissional. Se não vencermos este desafio urgente, de fato, não teremos reindustrialização. Qualificação profissional e treinamento dos recursos humanos, com escala e com projeto bem definido sobre quais áreas devem receber atenção central, devem ser um projeto do governo e de toda a sociedade brasileira.
O Brasil teve um longo e intenso período de crescimento entre 1930 e 1980. São Paulo a frente, o crescimento médio do Brasil, no período, foi de 6% ao ano, com forte crescimento da indústria de transformação. A partir de 1981, quando a participação da indústria no PIB foi de 26,2%, até 2022, quando a participação da indústria no PIB caiu para 11%, o crescimento médio brasileiro passou a ser de 2,2% ao ano. A desindustrialização cresceu a cada ano.
Nos cinquenta anos de intenso crescimento do PIB e da indústria, a qualificação profissional contou com vários procedimentos adotados pelos governos, pelos empreendedores e com a destreza dos trabalhadores em um mundo que as qualificações profissionais não exigiam nada semelhante ao que é necessário hoje. De lá para cá, embora tenha crescido a oferta de qualificação profissional ela é hoje fortemente insuficiente para encarar as demandas das novas tecnologias e, agora, da inteligência artificial.
O estado de São Paulo tem hoje a mais completa rede pública de ensino profissionalizante, com foco nas novas demandas da economia. O sistema Paula Souza deu um salto nos últimos 20 anos. Em 2000 eram 7 as FATECs (Faculdade de Tecnologia) e não chegavam a 100 as ETECs ( Ensino Técnico). Hoje são 74 FATECs e 224 ETECs, que acolhem mais 300 mil alunos. Ainda que significativos, esses números são claramente insuficientes, mesmo que somados a outras redes de ensino técnico, como as dos Sistema S e particulares. Prova disso são os milhões de jovens nem-nem (nem estudam nem trabalham) que vemos nas cidades daqui e em todo o país.
Claro que é urgente investir mais em educação em todos os níveis, inclusive adotando o novo currículo do ensino médio em substituição ao atual que vigora há 80 anos. Mas urge não sacrificar mais uma geração de milhões de jovens aptos a receber uma qualificação e treinamento profissional sem os quais o Brasil não vai conseguir crescer de forma sustentável.
Acredito ser possível e viável o governo federal liderar um projeto para fornecer qualificação e treinamento para esses jovens nem-nem em todo o país em grande escala e com propósitos bem definidos. Seriam realizados cursos do Acre ao Rio Grande do Sul, inicialmente para aqueles que, entre 16 e 24 anos tenham conhecimento básico em português e matemática, para treinamento em Tecnologia da Informação, aplicativos e programas. Os cursos seriam feitos presencialmente e a distância, com monitores recrutados entre profissionais de TI. A qualificação seria focada em 1) Transição Energética; 2) Digitalização; 3) Economia Verde e descarbonização. Considerando um universo de 1) Segurança Alimentar/Fertilizantes; 2)Energia; 3) Complexo da Saúde; 4) Semi-condutores; 5) Defesa Nacional.
Na semana passada o presidente francês, Macron, apresentou plano para promover a reindustrialização da França, com investimentos em educação e treinamento e com foco no desenvolvimento de tecnologias verdes. O Brasil, com toda sua pujança, no auge da pandemia, não tinha produção suficiente nem de máscaras e nem de aventais. Parece que a França também não. Mas resolveu agir.