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O cenário político está cheio de tensões

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“Em 2018, a divisão social se intensificou e chegamos a outro patamar de antagonismo: o fenômeno denominado de ‘polarização afetiva’, contexto em que cresce a identificação pessoal com o grupo ao qual se pertence e o ódio em relação aos opositores. Em outras palavras, quando a polarização vira afetiva, adversário passa a ser inimigo(…) Com base na pesquisa Genial/Quaest de junho, descobrimos que 1 a cada 3 eleitores de Bolsonaro ou Lula se sentiriam infelizes ou muito infelizes caso tivessem filho ou filha casado com um membro do grupo adversário, sendo que esse número é maior entre os eleitores de Lula do que de Bolsonaro: 43% entre lulistas, contra 28%(…) a consequência imediata da polarização afetiva é um eleitor mais autoritário e violento”. Copio aqui partes do texto de Felipe Nunes, “A polarização da intolerância”, publicado no jornal O Globo do último 17 de julho. Ele é professor de ciência política na UFMG e diretor da Quaest.

Todos nós estamos acompanhando o cenário político cheio de tensões que Felipe Nunes analisa. O que fazer para recuperar o ambiente que prevalecia até poucos anos atrás, a partir da redemocratização? Nas famílias, e na sociedade, em que as divergências políticas eram discutidas e, às vezes, levadas até mesmo para o terreno da gozação recíproca. Mas sem ódios e inimizades tão recorrentes hoje. Ou será que o que vemos agora nos deixa a vontade para viver o processo eleitoral que está começando? Penso que não.

O país, um projeto de nação, não se constrói com uma utópica ideia de que tudo tem que ser diferente do que o outro pensa e diferente do que foi feito até aqui. As divergências, os tensionamentos sobre a melhor via a seguir, não devem resultar num jogo de soma zero. Há controvérsias sobre a presidência de Juscelino Kubitschek nos anos 50 do século passado. Mas seu governo foi extraordinário. Mobilizou e motivou o Brasil inteiro para o desenvolvimento com seu plano de metas, enfrentou desafios de toda natureza, foi um estadista. Derrotou os que tentaram desafiá-lo com armas e depois os anistiou. Criou consensos e resultados. “Sacudiu dentro de nós insuspeitadas possibilidades. A partir de Juscelino, surge um novo brasileiro”, no dizer de Nelson Rodrigues.

Não se trata de saudosismo. Simples observação da história. Pouco se constrói num ambiente de permanente conflito. E quanto mais conflitivo for o ambiente político e social, menos resultados para atender de forma consequente e durável os interesses da maioria da população. Não se resolve a ineficiência de um governo, atribuindo os maus resultados sempre aos outros. Se resolve com trabalho, com objetivos e propósitos capazes de envolver maiorias, criando confiança e esperança. Numa democracia, na marra, na ameaça, no abuso sistemático da máquina pública que, em geral, sempre atende as minorias, não funciona.

Os números são os números. O Brasil não vai bem. A economia anda de lado. Os investimentos estão muito aquém do necessário. O crescimento da economia é menor que o crescimento da população. A renda está cada vez mais concentrada e de forma crescente nas mãos dos que têm mais renda. A pobreza e miséria da população é crescente. O Brasil tem fome de comida, cada vez mais cara e escassa.

O Brasil pode mudar. Para melhor. Começando por não deixar acontecer um processo eleitoral/presidencial tumultuado por ameaças de toda natureza, inclusive de ruptura das regras do jogo democrático. Eleição é o grande momento da democracia, e nós a queremos sempre consolidada. Ela vai nos propiciar o bom diagnóstico dos desafios que devemos enfrentar e resolver para construir um país melhor. Os desafios, como enfrentá-los e vencê-los, está é a questão.

Por José Anibal – Economista, Senador Suplente, já foi Deputado Federal