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O que fizemos e o que temos por fazer

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A ação política virtuosa e eficiente se dá na construção de uma agenda e de sua efetivação. é o que o Brasil reconquistou há um ano, quando chegou ao fim, antes que pusesse fim ao próprio país, a gestão de Dilma Rousseff, marcada tanto pela criminalização da política e do debate quanto pela inoperância, incompetência e corrupção.

Com o afastamento da então presidente em 12 de maio de 2016 – posteriormente cassada por crime de responsabilidade em julgamento amparado pela Constituição – e a posse de Michel Temer, o governo voltou a ser governo, e o Brasil voltou a contar com uma agenda efetiva para retomada do crescimento econômico e da responsabilidade fiscal, fundamentos para a recuperação e geração de emprego e da renda perdida durante a recessão. Tivesse continuado no poder, Dilma inevitavelmente jogaria todos nós num abismo ainda mais profundo do que o encontrado há 12 meses. Quebraria o Brasil.

A diferença de perspectiva é óbvia, assim como os resultados posteriores. Naquele maio de 2016, tínhamos inflação de dois dígitos e a expectativa para o fim daquele ano de alta de 7% nos preços – seria o segundo ano consecutivo de descumprimento da meta – e taxa de juros de 13% ao ano. Hoje, os preços estão estabilizados e a meta voltará a ser cumprida não no limite de tolerância, mas no centro do alvo, com 4% ao ano, assim como taxa Selic em dezembro entre 8% e 8,5%. Não é pouca coisa, ainda que os juros possam cair mais.

Na semana do afastamento provisório de Dilma, a depreciação do real frente ao dólar era dada como certa: previa-se câmbio de R$ 3,70 no fim do ano passado e R$ 3,90 para o fim de 2017. Agora, nossa moeda ficou mais estável, e as expectativas estão em R$ 3,23 para dezembro próximo e R$ 3,40 para o de 2018. Somam-se a esses dados a melhora nas expectativas tanto da indústria como do consumidor. São traduçães concretas de um governo com perspectiva.

O lulopetismo jogou o Brasil na maior recessão da história, deixando como herança maldita a destruição de milhães de empregos, cuja consequência ainda é sentida nas ruas e medida nas estatísticas – passam dos 14 milhães os brasileiros que ficaram sem trabalho por obra de Lula, Dilma e seus companheiros. Por obra da presidente cassada, o PIB per capita desabou 9% em dois anos, índice comparável apenas ao período de hiperinflação anterior ao Plano Real e à estabilização da economia promovida por Fernando Henrique Cardoso.

São dados eloquentes e gritantes do fracasso da “nova matriz econômica” que o PT, por conveniência e cinismo, simplesmente ignora. Ao dar as costas às famílias que perderam qualidade de vida e olhar apenas para o próprio umbigo, o partido e seus aparelhos associados, como sindicatos e as corporaçães, berram contra tudo e contra todos, e revelam mais uma vez sua paixão estrita pelo poder e total falta de compromisso com o futuro do país. Insistem em jogar pelo caos e contra o Brasil.

Nessa perversa e anacrônica estratégia, estimulam a desinformação e, no limite, pregam a falta de perspectiva. Como bem apontou o ex-ministro Delfim Netto no jornal Valor Econômico, a confusão e a distorção se revelam com surpreendente clareza nas pesquisas de opinião pública sobre as reformas em discussão no Congresso Nacional. A mesma maioria que diz, por exemplo, acreditar na falácia de “perda de direitos” com a atualização das leis trabalhistas também concorda com a afirmação de que os salários e os empregos vão ficar iguais ou aumentar com a nova lei da terceirização. Da mesma forma, fez-se grande alarde em torno dos que são contrários à reforma da Previdência, mas não ao fato de que só 1 em 4 brasileiros se sente “bem informado” sobre o tema.

Em outras palavras, obviamente falta informar ao cidadão comum que a aposentadoria de 69% dos brasileiros que estão no INSS não terá nenhuma perda de valor com a aprovação da reforma. Ao contrário: sem a reforma, o governo só conseguirá pagar as aposentadorias sem comprometer ainda mais outras funçães – como saúde, educação e segurança – por cinco anos, como mostrou na terça-feira relatório da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado. Esse risco de insolvência se explica pelos privilégios que as atuais regras ainda permitem e as novas se propãem a combater, como aposentadorias precoces, acúmulo de pensães e integralidade e paridade a todo o setor público.

E por que a dificuldade em chegar ao povo a informação de que as reformas têm como objetivo modernizar o país, promover o crescimento e tornar as regras mais igualitárias e menos corporativistas? Sem dúvida é preciso melhorar a comunicação do governo, mostrar o que e por que está sendo feito o ajuste fiscal, as mudanças na Previdência e a atualização da CLT. Mas não é só isso.

Minha avaliação é de que precisamos agregar à perspectiva existente nessa agenda a paixão que move as convicçães políticas. A defesa do espírito das reformas precisa ser feita com coragem e com todos os meios e dados à disposição, especialmente pelos políticos e parlamentares que compãem a base de sustentação do governo. Isso não significa adotar o sectarismo e os gritos dos adversários – adversários nossos e do Brasil. Assumir a ação política virtuosa de promover uma boa reforma da Previdência, explicar para a sociedade a necessidade e as vantagens de se extinguir os anacronismos da CLT sem desproteger os trabalhadores, mostrar que, sem responsabilidade fiscal e discernimento nas políticas públicas, estaremos condenando o país a patinar no mesmo lugar, enquanto o mundo busca alternativas como a eleição da plataforma social-liberal de Emmanuel Macron na França.

Nos 12 meses que se completam na sexta-feira, estamos recuperando a capacidade de dar perspectiva à agenda do governo, expor à população os desafios existentes e vislumbrar estratégias para construir um futuro melhor. é preciso impedir o retrocesso à paixão cega do populismo, assim como o extremismo movido a ódio e avesso ao debate que assusta naçães mundo afora. Mais 19 meses nos separam do fim de 2018, quando terminará o atual mandato presidencial e um novo governo terá início. Ainda há muito o que fazer para o próximo presidente da República assumir um Brasil com mais respeito às leis, em condiçães reais de fazer crescer sua economia, gerar empregos e promover aumento de renda e redução da pobreza. Vamos fazer!

José Aníbal é presidente nacional do Instituto Teotônio Vilela e suplente de senador por São Paulo. Foi deputado federal e presidente nacional do PSDB.