Instituto Teotônio Vilela (ITV) promove debate sobre as causas do desemprego e da desindustrialização no Brasil
O Instituto Teotônio Vilela (ITV) e o PSDB-SP realizaram na manhã desta sexta-feira (29), em São Bernardo do Campo, o Encontro Regional “Caminhos para o Sudeste – ABC Paulista”, que debateu os temas desemprego e desindustrialização. O evento contou com palestras do economista e professor do Insper, João Manoel Pinho de Mello, do especialista em contas públicas e mestre em economia, Mansueto Almeida, e do presidente do ITV, José Aníbal. Também participaram o deputado estadual, Orlando Morando, o ex-prefeito de São Bernardo do Campo, Maurício Soares e o diretor do ITV, Cesar Gontijo.
Governo Dilma é uma fraude
Em sua palestra, José Aníbal afirmou que o Brasil já cansou de regredir com os governos petistas e precisa ‘olhar adiante’.
“Esse governo é uma fraude. Os petistas receberam uma herança bendita e surfaram bem nela enquanto puderam. Em 2014, quando não tinham mais como nos engabelar, partiram pro mais vergonhoso estelionato eleitoral. Hoje, vivemos uma grave crise. Não temos mais gestão pública nenhuma. Não há governo. O Brasil quer e precisa retomar o emprego, o crescimento, a autoestima. O desafio não é maior do que a nossa vontade de superá-lo”, complementou.
Para o presidente do ITV, há um ‘horizonte de melhora’ com o impeachment da presidente Dilma Rousseff e o início de um novo governo de recuperação nacional. “O PSDB dará lastro ao novo governo que está por vir com base em propostas. é urgente recuperar a credibilidade, os investimentos e os empregos. Manter e aprofundar as investigações em curso, em especial a Lava Jato. Fazer reformas estruturantes. O caminho começa por ter um governo organizado, não esse desastre que ainda está aí”, finalizou José Aníbal.
Tempos sombrios
O professor do Insper, João Manoel Pinho de Mello, destacou que o Brasil vive ‘tempos sombrios’ por conta do descalabro nas contas públicas. “Os últimos governos do PT fizeram com que a sociedade não caiba mais dentro do Estado. Não há mais como pagar a conta. Gastaram muito em épocas de bonança. Fizeram a farra”, afirmou.
Um dos motivos que nos levaram à crise recessiva, segundo João Manoel de Mello, foi o governo começar a emprestar barato, com juros subsidiados, via BNDES, para fabricar as “campeãs nacionais”, onde supostamente estariam os melhores empregos. “O BNDES teve um aumento de nove vezes, em média, em seu balanço. Mesmo assim não conseguimos destravar um programa de infraestrutura, que ajudaria muito o agronegócio e a indústria”, complementou.
De acordo com Mello, para sairmos do atual cenário de ‘agonia’, é preciso desfazer a Nova Matriz Econômica, “que errou em quase tudo, retomar a confiança do investidor e reduzir o risco Brasil para voltar a atrair investimentos.” Ainda segundo ele, o governo Dilma não tem planejamento e age por impulso. “Em 2012, os economistas de esquerda acharam que já éramos um país avançado e abaixaram os juros na marra. O resultado é este que vemos hoje”, finalizou.
Em seguida, o especialista em contas públicas, Mansueto Almeida, traçou um diagnóstico da crise e apontou as causas que nos levaram ao atual quadro. “O Mundo está crescendo e o Brasil retraindo, é anormal. Teremos queda de quase 4% do nosso PIB em 2015 e 2016. As causas da crise brasileira são domésticas. Decorrem de sucessivos erros de política econômica desde 2008/2009”, afirmou.
Dívida Pública
Mansueto alertou para os riscos do crescimento da dívida pública do Brasil. “Somos um país que precisará estancar rapidamente o crescimento da dívida, com um urgente ajuste fiscal. A dívida pública do Brasil hoje é de 67% do PIB. A média dos países emergentes é 44%. Não dá para o Brasil continuar aumentando sua dívida. Não podemos ser tão endividados como outros países, por exemplo, Japão, Alemanha e EUA. Gastamos muito com juros. O Japão gasta 0,9% do seu PIB com juros. O Brasil 8%. Países desenvolvidos conseguem créditos com condições melhores, juros menores. O Brasil não consegue tomar créditos com juros baixos, tem um histórico de calote. Por isso, a nossa dívida pública em quase 70% do PIB é um problema”.
Desindustrialização
A desindustrialização do Brasil é um problema que já vinha acontecendo antes de estourar a crise econômica, segundo Mansueto. “Antes do estopim da crise, a indústria brasileira já estava perdendo competitividade. O governo não fez o dever de casa. O Brasil se tornou um país muito caro.”
“O governo atacou pelo lado da demanda. Deu mais subsídios para as pessoas comprarem carros e eletrodomésticos, só que aquilo que é produzido aqui é extremamente caro. é preciso ter um setor de serviços muito forte e uma boa infraestrutura para tornar nosso produto competitivo”, complementou.
Herança maldita
Mansueto acredita que podemos ser otimistas, apesar da ‘herança maldita’ que será deixada pelo atual governo. “Em relação aos emergentes, apesar de sermos o país mais endividado, a Rússia ainda depende muito de petróleo e gás. A África do Sul tem uma taxa de desemprego de 25%. A índia está crescendo, mas tem uma infraestrutura péssima. Nós temos uma economia bastante diversificada, é possível voltarmos a crescer, mas precisamos de reformas. Esse governo não conseguiu controlar o crescimento da despesa pública; não recuperou o superávit primário para 2% do PIB; não melhorou ou simplificou o sistema tributário; não aumentou o investimento em infraestrutura. Esse governo tornou o Brasil quase que disfuncional. Nosso PIB per capita em 2021 será menor do que em 2011. Isso se crescermos uma média de 2% ao ano a partir de 2019. é uma década perdida.”
O especialista em contas públicas afirma que a recuperação não será rápida, mas é possível superar a crise econômica e voltar a crescer: “O Brasil precisa aumentar sua produtividade, recuperar os investimentos públicos e privados em infraestrutura, retomar a competitividade nas exportações, fazer reformas estruturais, como a tributária e previdenciária, melhorar o ambiente de negócios, investir em educação de base, acabar com a excessiva intervenção do governo na economia e com as regras de indexação dos gastos. Precisamos de um setor público equilibrado, que não gaste mais do que arrecada”, finalizou Mansueto.