“Fiquem tranquilos que, com o tempo, vamos resolver todos os problemas.” Magnífica e tranquilizadora frase do então novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, em 20 de dezembro do longínquo, mas presente ano de 2015. Em pouco mais de um mês, tudo se agravou. Mas o ministro, depois de uma rápida e insignificante passagem por Davos, prepara-se para apresentar no Conselhão desta semana um tal pacto pelo desenvolvimento (!?).
O ministro tem noção da gravidade do desastre provocado por eles? Duvido. Não que devesse assumir o que todo mundo sabe: o Brasil está à deriva. Também não imaginei que, com coragem e ousadia, nos dissesse, como Churchill disse ao povo inglês ante a agressão nazista, que o que podia lhe prometer era sangue, suor e lágrimas. Seria querer muito e, afinal, não estamos em guerra, ainda que sob o bombardeio intermitente de más notícias, especialmente o desemprego.
Entretanto, o ministro da Fazenda tem a obrigação de não ser fantasioso. Com o tempo, como ele diz, ou no longo prazo, como disse o economista Keynes, estaremos todos mortos. Ministro da Fazenda não pode ser um soldado a serviço de políticas circunstanciais de governo, tem que ser e parecer verdadeiro, um médico seguro do diagnóstico que assina, pois só assim haverá alguma credibilidade no que propãe. Não é o caso de Barbosa, um dos criadores da desastrosa Nova Matriz Econômica de Dilma. Por isso, o mais provável no Conselhão é que apresente, como um genérico, uma versão retrofit da Nova (velha e desastrada) Matriz Econômica: usar o dinheiro das pedaladas pagas pelo Tesouro aos bancos públicos para oferecer crédito às empresas.
Para pagar as pedaladas, aumentaram irresponsavelmente a dívida pública. No ano de 2015 a dívida cresceu R$ 497 bilhães! Meio trilhão de reais a mais no lombo dos brasileiros, num ano, é o custo Dilma. é crime de lesa-Brasil! Agora vão oferecer “crédito” criado para demanda inexistente. Jogo de cena depois do crime. Demitindo, reduzindo produção, sem perspectiva de mudança, sem nenhuma confiança ou credibilidade no Governo, quem vai investir? Nem se escalarem os conselheiros para combinar com os russos! Quem é o louco de tomar dinheiro emprestado hoje? Ainda que subsidiadas, as taxas de juros serão proibitivas.
Governo à deriva não merece nem condescendência nem exageros nas críticas. Até porque não há governo. A Presidência é ocupada por uma personagem com fala atabalhoada, desconexa. Dilma está condenada a usar seu tempo de entrevistas à imprensa para se defender e também aos seus, sempre às voltas com os grandes escândalos, roubalheiras. O sofrimento dos brasileiros, a presidente deletou da memória.
Na sua última entrevista, Dilma estava preocupada com injustiças nas delaçães dos réus da Lava Jato. Se a acusação não for verdadeira, o acusado “tá lascado”, disse ela. Verdade, nada pior do que acusação leviana. Mas lascados mesmo estão os brasileiros com este desgoverno que ela encabeça. E sobre os milhães de lascados, a confusa, assustada e paralisada Dilma Rousseff, nada tem a declarar.
Como pode um país presidencialista como o Brasil viver com esse simulacro de Presidente da República? Já se passaram treze (que número!) meses da nova posse. E nada. Inação no Planalto, retrocesso no país. O Conselhão com 80 ou 90 membros vai ser iluminado para nos tirar da crise numa balburdiosa conversa de algumas horas com uma presidente que ouve, mas não escuta? Seu guru Lula, às voltas com denúncias e, furibundo, ameaçando a todos com processos, se escafedeu do Planalto.
Dilma está só. Conta com sua caneta para transgredir e, como acontece todo dia, agravar a crise. O Congresso vai mantê-la, perseverar em dividir o ônus com o governo responsável pelo maior desastre da história contemporânea do Brasil? Se forem por este caminho, os que lá estão e a apoiam, estarão se penalizando e, principalmente, fragilizando a principal instituição da democracia aos olhos e na apreciação da sociedade brasileira. Não creio.
José Aníbal é presidente nacional do Instituto Teotônio Vilela e senador suplente pelo PSDB-SP. Foi deputado federal e presidente nacional do PSDB.