Cerca de 100 pessoas, principalmente jovens, participaram do seminário A Revolução no Mundo do Emprego: Desafios e oportunidades de carreira no novo mercado de trabalho, promovido pelo Instituto Teotônio Vilela em Piracicaba (SP), neste sábado, dia 3 de junho. Ao longo de mais de duas horas, foram discutidas questões como a preparação e formação dos futuros profissionais, as transformações promovidas pelas novas tecnologias, a multidisciplinaridade dos setores de ponta, entre outros temas. Parte do evento foi transmitida ao vivo pela página do ITV no Facebook.
Na abertura do evento, o presidente do ITV, José Aníbal, comparou a expectativa das famílias no passado em relação aos dias atuais e destacou a importância de promover eventos como o seminário com participação dos jovens. “Antigamente, os pais queriam três filhos homens: um para ir para o Exército, outro para a Igreja e outro para o Banco do Brasil”, contou. “Hoje, as expectativas são diferentes e é fundamental ouvir os jovens a esse respeito. Uma vez, na África do Sul, Nelson Mandela foi chamado para uma reunião sobre o futuro do país, mas não havia jovens entre eles. Ele foi embora e disse que voltaria quando também fossem chamados os jovens, pois são eles que vão viver o futuro.”
Cada um dos quatro palestrantes do seminário trouxe sua experiência profissional, acadêmica e de interação com o setor público em iniciativas de inovação, empreendedorismo, pesquisa científica e desenvolvimento de políticas públicas. Com isso, compuseram um mosaico bastante diversificado e complementar, em que ficou nítido o quanto o mundo se tornou mais complexo, e isso exige dos futuros profissionais maior preparo e mais flexibilidade para os desafios de hoje e do futuro.
Capacitação contínua
Prefeito de Piracicaba pelo terceiro mandato, Barjas Negri contou como a cidade aproveitou a iminente instalação de uma montadora de veículos automotores para incrementar a oferta de cursos de qualificação profissional e integração entre setor público e privado para aprimorar a formação dos jovens. “A expectativa da maioria dos jovens costuma ser estudar o ensino fundamental, o médio e o superior”, disse Barjas. “Levamos empresários, presidentes de grandes companhias, para disseminar o ensino técnico. Isso criou uma demanda surpreendente no Vestibulinho das escolas técnicas e preencheu as vagas que oferecemos.”
Com essa melhor formação dos profissionais, Piracicaba conseguiu tirar melhor proveito dos anos de crescimento do PIB nacional e enfrentou menos problemas diante da recessão do último biênio. Quando a Hyundai começou as atividades na planta da cidade, todos os quase 2 mil funcionários que foram contratados passaram antes por cursos de qualificação. Durante a recessão, a montadora, hoje com cerca de 7 mil funcionários, foi a única do país a manter três turnos de produção.
Novas habilidades
Diretor de marketing da BYD, multinacional chinesa do setor de energia limpa e de veículos elétricos, Adalberto Maluf falou sobre as tecnologias disruptivas e as revoluções promovidas pela inovação em diversos setores. Nas áreas de atuação da empresa, o desenvolvimento de baterias para veículos elétricos mais duráveis levou a chinesa ao topo do segmento. “O desenvolvimento de uma tecnologia disruptiva e a reversão de 100% do lucro em investimento na empresa fez a BYD se tornar a maior fabricante de veículos elétricos do mundo.”
Maluf ainda mostrou aos jovens quais são, a seu ver, as quatro habilidades fundamentais para quem quer ser bem-sucedido no mercado de trabalho atual e do futuro: formação multidisciplinar, ainda que se tenha uma especialidade profissional; capacidade de adaptação e flexibilidade para mudanças; senso de urgência com equilíbrio; e, principalmente, relacionamento interpessoal. “As pessoas sabem falar, discutir, reagir, mas não sabem ouvir nem se colocar no papel do outro”, afirmou o diretor.
Resiliência
Fundador e CEO da I.Systems, empresa de software de controle avançado baseado em técnicas de inteligência artificial, Igor Santiago contou do quanto a resiliência é importante para quem quer empreender e de que a escolha de bons sócios também é fundamental. “Sobrevivemos dez anos antes de chegar aonde chegamos”, disse ele. Santiago formou uma sociedade com dois colegas de faculdade dos tempos de Unicamp – o trio chegou a dividir a mesma moradia no início dos trabalhos da empresa. “Muita sociedade é mais difícil de se desfazer do que de um casamento. Por isso é tão importante saber com quem você vai ’casar’ no seu empreendimento”, brincou.
Para o empreendedor, a resiliência para acreditar e trabalhar por uma ideia é importante também para enfrentar dificuldades como falta de financiamento e de políticas públicas de incentivo à inovação. “Países como China, Coreia, Japão tem políticas de Estado nesse sentido. Na Europa, a Alemanha tem, a França não, mas essa é uma das prioridades apontadas pelo (presidente Emmanuel) Macron.”
Novas fronteiras
A consultora em tendências tecnológicas e especialista em gestão de negócios pela Fundação Dom Cabral, Denise Golgher, usou o exemplo do surgimento da biotecnologia, há 40 anos, para mostrar como o casamento entre a ciência e o empreendedorismo podem render frutos. “Foi a visão de um investidor, que vislumbrou em 1976 a possiblidade de um grande negócio na área e procurou um pesquisador, o passo inicial. Os dez minutos de conversa viraram horas, um plano de negócios de 250 mil dólares que, dois anos depois, ganhou um aporte de 500 mil dólares de uma indústria farmacêutica e o IPO deles, em 1980, rendeu 25 milhões de dólares”, contou.
De lá para cá, a indústria da biotecnologia como um todo responde por 2% do PIB e atraiu para o setor megaempreendedores como Bill Gates e Jeff Bezos, que se tornaram sócios de uma empresa que tenta desenvolver novos tratamentos e diagnósticos mais precoces do câncer. “Agora, a tecnologia da informação passou a fazer parte do modelo de negócios, para lidar com a coleta de dados numa escala gigantesca”, explicou Denise. “O lema deles é formar o melhor time do mundo, com profissionais das mais diversas áreas. é um incentivo à busca pelos melhores profissionais, que querem se dedicar a um projeto dessa magnitude.”
Depois das apresentações, os palestrantes responderam a perguntas do público e discutiram alguns dos pontos que mais despertaram curiosidade no público.