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Campanha de Doria não acrescentou ‘nada de nada’, diz José Aníbal

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O ex-deputado federal José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela, fundação do PSDB, criticou neste domingo (28) o empresário João Doria, pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, e seu maior apoiador, o governador Geraldo Alckmin.

Em entrevista à Folha, o tucano disse que a campanha de Doria “não acrescenta nada de nada” e que Alckmin agiu como cabo eleitoral de Doria. “A fronteira entre a ação de um governador e o uso da máquina pública é quase nenhuma, né?”, criticou.

Aníbal, que é favorável à pré-candidatura do deputado Ricardo Tripoli, afirmou também que essa campanha de prévias não entusiasmou o eleitorado.

Leia a entrevista:

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Folha – O que o sr. acha da divisão do partido?

José Aníbal – Com relação ao segundo turno, tem que esperar. Eleição é só depois da apuração. Eu também tenho essa impressão, como vários têm, que vai para o segundo turno. Acho que foi uma eleição que não entusiasmou politicamente, não houve um entusiasmo político. Mas houve uma mobilização da militância partidária razoável. Não houve entusiasmo porque havia um pano de fundo de divisão, infelizmente.

Inclusive o fato de que o principal eleitor de São Paulo, a principal liderança nossa, o governador, estava claramente agindo como cabo eleitoral. Embora dissesse todo tempo que “o meu candidato é o candidato das prévias”, ele trabalhou intensamente. E aí a fronteira entre a ação de um governador e o uso da máquina pública é quase nenhuma, né?

O que o sr. acha das acusações de que Doria remunerou a militância do partido?

Eu acho que ele teve uma campanha muito endinheirada e isso subjuga mais ainda o conteúdo político que uma disputa dessa deveria ter. Ele não acrescentou nada do ponto de vista político, do ponto de vista de construção de uma proposta para São Paulo, de trabalhar alguns valores que são importantes para um eleitorado que acha que todo político é desonesto, que acha que político não cumpre a palavra, é mentiroso, e que, portanto é muito descrente. Precisa fazer um trabalho forte de recuperação de valores, de ideias e programas viáveis que melhorem a vida das pessoas. E acho que a candidatura do Doria não acrescenta nada de nada. Só acrescentou realmente um elemento forte de dinheiro na campanha. Está se vendo hoje, em dia de eleição, os meios de que ele dispõe para fazer cartaz, cavalete, etc.

Como que a disputa municipal impactará a campanha nacional?

Olha, não sei, é muito cedo ainda. Uma disputa municipal tem pouco impacto numa eleição nacional. O resultado municipal pode até ter alguma expressão, mas é imprevisível. A disputa taí, está posta.

O sr. acha que a definição de um candidato nacional em 2018 será tão disputada?

Não sei. Ontem estive em uma reunião em Goiânia (GO) com o Aécio [Neves, senador de Minas] e o Marconi Perillo [governador de Goiás]. O slogan básico era “queremos social-democracia”. Lá foi colocada muito forte a ideia da renúncia da Dilma. Agora, com o PT se dissociando da Dilma de forma bem oportunista, tentando resgatar uma coisa que já não existe mais – o PT é só retrato na parede, como são as montanhas de Itabirito. A Dilma não tem mais como governar o Brasil, ela já não governa, só se defende para tentar evitar a sua saída. Agora então, está tudo se agravando.

Como o sr. vê o caminho que o PT está trilhando e o que isso significa para o PSDB?

Do ponto de vista do PT, é um caminho de emagrecimento generalizado, sobretudo junto ao eleitor. Junta essa máquina partidária que precisa sobreviver a custa do Estado, o emagrecimento também acontece, mas menos. Que esses aí logo adiante vão buscar alternativas de como continuar fazendo a sua atividade, seu proselitismo, sobrevivendo à custa do dinheiro público.

Acho que o PT é um projeto que fracassou. Ele se beneficiou de uma situação muito favorável na primeira década do século, podia ter deixado algo extraordinário de estruturação do país, de logística, infraestrutura. Não fez, foi pelo facilitário e o facilitário hoje custa uma crise muito forte que faz o Brasil retroceder.

é uma pena, o Brasil vai estar com uma dívida perto do descontrole. Situação semelhante ao que aconteceu na Grécia e em outros países. O Brasil pode chegar a isso, a continuidade da Dilma pode nos levar a isso. A Dilma não tem a menor condição de conter a sangria que o país está vivendo, muito pelo contrário, ela agrava isso a cada dia. Espero que, com essa demonstração de que até o PT, de forma muito oportunista pula fora, ainda que, no devaneio petista, se voltar a praticar a política econômica anterior, de 2013, 2014, eles se recuperam – o que não é possível. Olha, eles não conseguem mais praticar essa política simplesmente porque quebraram o Brasil, não tem como.

Aqui, havendo segundo turno, é uma boa oportunidade para que as candidaturas possam debater um pouco mais a cidade, valores que os paulistanos julgam relevantes e que podem mobilizá-los para uma boa disputa.

Acho que a chance do PSDB ganhar a eleição em São Paulo, se nós conseguirmos recuperar um pouco mais a prática de conversar, dialogar com o eleitor de São Paulo, mostrar que é possível fazer coisas que melhorem a vida das pessoas, se fizer isso, vai valer a pena. E quem sabe o partido pode entrar de maneira bem convergente na eleição. Tudo vai depender da ação das lideranças e eu espero que seja uma ação mais convergente e menos de divisão, como foi agora no primeiro turno.

Tudo indica que o PSDB terá oponentes fortes.

Acho que é uma eleição aberta. Não tem nenhum grande favorito ainda. Tem uns mais testados e uns menos testados. Tem a Marta [Suplicy], que já foi prefeita. Atenção – a Marta perdeu quando tentou a reeleição, perdeu para o [José] Serra. Sobre o atual prefeito [Fernando Haddad], o fato de ser prefeito dá alguma vantagem, mas ele tem um grau de reprovação que, em geral, quem entra numa eleição com esse grau de reprovação dificilmente consegue sucesso. E o [Celso] Russomano é um candidato que está navegando, não teve ainda nenhum embate, nenhuma demanda para que ele se apresente não apenas como defesa do consumidor, mas como defesa de São Paulo.