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Para ser governo de fato, não basta ser governo de direito

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Um falso dilema parece rondar muitas cabeças: o Brasil deve dar prioridade à retomada econômica, para recuperarmos os quase 10% do PIB e os milhães de empregos destruídos pela recessão iniciada em 2014, ou à refundação das bases morais da política, de modo a tornar o sistema não só mais funcional como mais representativo dos anseios da sociedade?

Precisamos de ambos: são as decisães políticas bem construídas que permitem os avanços econômicos e a prosperidade de um país, e isso só se consegue quando um governo e as forças que o apoiam tem plena ciência de suas responsabilidades.

O preço que se paga quando os mandatários de plantão deixam de fazer sua parte é bem conhecido dos brasileiros. Uma recessão como nunca antes vista na história deixou 14 milhães de desempregados, fez o PIB per capita cair quase tanto quanto na década perdida dos anos 80.

Parte disso é fruto não só da incompetência econômica travestida de “nova matriz”, mas da licenciosidade que levou a um prejuízo provocado pela corrupção, segundo a Polícia Federal, de mais de R$ 150 bilhães de reais dos cofres públicos –mais de um terço desse valor, R$ 54 bilhães, desfalcados dos fundos de pensão, colocando em risco o futuro de centenas de milhares de trabalhadores dos mais diversos setores.

Um governo se faz forte e legítimo pela responsabilidade de seus atos, seja na perspectiva dos bons frutos que vão render no futuro à nação, seja nas obrigaçães a cumprir no presente a serviço do interesse público.

Ninguém disse que seria tarefa fácil sustentar o apoio às reformas estruturais que são tão necessárias ao Brasil, como a trabalhista e a previdenciária, assim como sabemos todos o quão árduo é convencer os políticos e os partidos a abraçarem uma reforma política minimamente condizente com os anseios da população, sem subterfúgios para preservação de nacos de poder ou coisa que o valha.

Para ser governo de fato, não basta ser governo de direito. Tampouco basta a melhor das intençães se não houver habilidade, competência e compromisso para conseguir colocá-las em vigor. Um vacilo como o que vimos nesta semana, com a rejeição por um voto do relatório da reforma trabalhista em uma das comissães do Senado, é mais um sinal de alerta do que o desastre que muitos tentaram fazer crer.

Mas não deve de forma alguma ser ignorado pelos que estão compromissados com o país. Aos que estão preocupados com outras questães que não sejam recuperar a economia nacional e reformular o sistema político simultaneamente, de forma imbricada e não excludente, o melhor é mesmo dedicar-se às outras questães.

José Aníbal é presidente nacional do Instituto Teotônio Vilela e suplente de senador por São Paulo. Foi deputado federal e presidente nacional do PSDB.

Foto: Pedro França/Agência Senado